O novo coronavírus, motivo da
pandemia global, altera a vida das pessoas, em âmbito individual e profissional,
a exemplo da alteração que ocorre na educação do ensino básico.
O isolamento social por causa do
vírus impossibilitou a convivência presencial nas escolas, gerando o ensino
remoto. E esta convivência é um bem valioso, possivelmente o maior.
É certo que a modalidade de ensino
híbrido, a mescla do ensino presencial com o ensino a distância, iria se
configurar até 2021. No entanto, com o intuito de manter estudantes em rotina
de aprendizado, em meio à pandemia, começou em abril, porém a aprendizagem está
deficitária.
De acordo com Daniel Cara, professor
da Faculdade de Educação da USP (Universidade de São Paulo), este é um ano
perdido:
Esse
vai ser um período mais do que perdido. Eu lamento dizer para os pais que
acreditam nisso, que não está funcionando. As crianças estão ficando esgotadas
e não estão aprendendo. No fim da pandemia, essas crianças vão ter problemas
decorrentes de saúde mental, pela pressão que está sendo exercida.
[...]
Todas as pesquisas sérias em termos de pedagogia, neurociência e didática, vão
mostrar que a educação depende, especialmente no processo inicial, que vai da
creche até o ensino médio, de vínculo. E o vínculo não é só entre educador e
educando, como diria Paulo Freire, é um vínculo também dentro da turma. Os
alunos aprendem entre si.
Para a realização do ensino remoto,
cuja iniciativa advém de inúmeras Secretarias Estaduais de Educação, foram
realizados acordos de interesses de grupos poderosos de tecnologia, conforme
explica Daniel Cara:
Estão,
na verdade, estimulando um processo de educação a distância que interessa mais
aos empresários da educação.
[...]
São as companhias de telefonia, que podem fornecer a tecnologia 4G, as
plataformas de educação a distância e as fundações empresariais que já vendem
esse pacote na prática.
[...]
Antes mesmo de a gente ter uma noção concreta do impacto da pandemia sobre a
educação, eles já tomaram uma série de iniciativas para estruturar grandes
negócios. A gente sabe que o negócio da educação no Brasil é de mais de R$ 200
bilhões. E os empresários, lógico, querem uma fatia desse bolo.
O ensino remoto, cognominado Aula
Paraná, a partir dos relatos de inúmeros colegas da educação pública do Paraná,
não está sendo realizado a contento. Existem problemas com a operacionalização
do sistema Google Classroom, um recurso do
Google Apps voltado à educação; dificuldades por parte de estudantes que não
têm acesso suficiente aos recursos tecnológicos; a falta de hábito para
atividades remotas, inclusive por parte do professor, e por aí vai...
Renato
Feder, Secretário
Estadual de Educação do Paraná, admitiu que 10%, de um milhão de estudantes,
não têm condições de acessar as aulas virtuais por nenhum tipo de tecnologia.
Diante
dessa situação, Tadeu Veneri, Deputado Estadual pelo Partido dos
Trabalhadores (PT), critica Renato Feder:
Ele
vive no maravilhoso Mundo de Alice. Não leva em conta o mundo real das pessoas,
onde mesmo aqueles alunos com acesso à tecnologia têm muitas dificuldades para
assimilar o conteúdo sem o auxílio dos professores. E se pensarmos que são
cerca de cem mil estudantes sem aulas virtuais, estamos falando de um grande
contingente de crianças que estão à margem desse sistema.
Concluo com o texto divulgado no Dia
da Educação, 28 de abril, no jornal Folha de São Paulo, pela Organização das
Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) e a
Associação Nacional de Jornais (ANJ):
Garantir educação de qualidade para todos, de
forma inclusiva e equitativa, é o caminho para assegurarmos todos os outros
direitos humanos e construirmos um mundo mais justo, solidário e sustentável.
Jorge Antonio de
Queiroz e Silva, historiador, palestrante, professor.