Por Jorge A.Queiroz e Silva
Sábado, 17/11/2018, 14h27
Fonte: Por e-mail
Jussara,
terra onde vivi parte de minha infância, adolescência e juventude, guarda
histórias interessantes, publicadas no livro Historias de Jussara na visão de pioneiros (organizado por SOUZA,
Joaquim B. de, 2. Ed. Joinville: Clube de Autores, 2018, 128 p.).
Com
21 relatos, os textos se completam e despertam em quem busca uma leitura
informativa também a possibilidade de ler curiosidades do cotidiano.
Primeiros tempos
Paulo
Pereira de Souza, ao descrever o início de Jussara, cita os primeiros
compradores de terras, os primeiros habitantes, a construção do Hotel da
Companhia Melhoramentos, a chegada de outros comerciantes, o primeiro prefeito
de Jussara, como foi a criação do município e o porquê do nome Jussara (p. 20 a
26).
O
convite "venham para cá, aqui é uma terra abençoada, terra roxa", presente no
depoimento de Francisco L. Barbosa (p. 51-52), fez com que ele e a esposa
fixassem ali residência e conhecessem a bênção da terra roxa, mesmo quando,
mais tarde abriu comércio. Em 1966, "a cidade era empoeirada em dias secos. Uma
cidade barrenta em dias chuvosos [...] nenhum metro de asfalto" (p.61), relata
o texto de Arno Tachini, que refere ter construído "mais de 80 casas nos municípios de Jussara,
Cianorte, Terra Boa (Malu)" (p. 64).
Segundo
Maria Mitsuhashi Ueda (p.70-71), "a avenida ficava cheia daqueles carroções de
quatro rodas, puxados até por dois animais, que traziam o pessoal que chegava
de todos os cantos do município para fazer compras. Como não existia asfalto,
"as galochas, calçados de borracha comuns nos anos 60, eram habitualmente
usadas por cima dos sapatos ou das botas para protegê-los do contato com a
água", descreve Jorge Antonio de Queiroz e Silva (p.76).
E
o trem que não trazia o pessoal de Aquidaban para visitar Joaquim B. de Souza?
Conta que sentava "todos os dias à tarde "em frente ao salão do Zé Cadare para
ver o pessoal chegar de trem" (p. 125), o trem da saudade.
Ao
chegar em Jussara, em 1953, encontrou pequena venda com os produtos jabá, carne
seca, machado, traçador, serrote, entre outros, conta Luiz Gotardo (p. 98) e
refere que entre os anos de 1951 a 1955 "o céu ficou turvo pela fumaça que
encobria o sol devido às queimadas[...], praticamente toda a mata Jussarense
caiu por terra". (p. 99). E apareceram as cafeeiras, como cita Anor B. da Silva
Filho (p. 36): Cafeeira Glória, da família Mitsuhashi, a Cafeeira do Sr. José
Corazza, a do Sr. Manoel J. Soares, primeiro prefeito de Jussara, a Preis e a
de José Bordin e Lino Parker.
Wilson
A. Reki relata que em 1954 ainda existiam poucas casas em Jussara. Nos
primeiros anos da década de 1960 foi inaugurada a Cia Mista de Energia Elétrica
de Jussara, e se lembra da inauguração do Banco Comercial do Paraná. Lamenta a
destruição da Igreja Matriz, em 1960, por causa de um raio, e conta que
assistiu "filmes maravilhosos no Cine São Pedro e depois Cine Jussara, ou
vice-versa" (p. 48)
A
precariedade das estradas é lembrada por Júlio Lino Martins (p. 82), "verdadeiras
picadas ainda dividindo espaços com tocos. Não tinha conservação". As estradas
eram arrumadas "no braço", com enxadas, picaretas e enxadões. Mas os rios
tinham água e peixes em abundância.
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Aproveitando
da própria experiência, Minoru Shimada nomina todos os prefeitos de Jussara,
após citar lideranças, a divisão do Município, a ocorrência de candidatura
única, a fundação da COCAMAR e a fundação da Associação Comercial do Paraná,
entre outros (p.102-107).
O ouro verde e negro
Os
relatos de Wilson José da Freiria, sobre o Café, denominado Ouro Negro, e de
Valdomiro Souza, Ouro Verde, enfatizam como o café era sinônimo de
prosperidade. Para Freiria, as boas safras, depois de três anos "tocando
lavoura de café", permitiu à família comprar o lote de terras n.0 147-A, de Cinco Alqueires, na estrada Buriti (p. 27). E, para Souza, ao chegar
com a família no município de Jussara na década de 1960, "na época não se
pensava em outra coisa a não ser formar lavouras de café, o ouro verde" (p.
31).
A
partir da década de 1950, com a força do frio maior na grande geada de 1955, a
cultura do café foi ficando para trás. Mas "por teimosia ou sonho, insistimos
até a grande geada de 1975" (p. 90), refere Alcides Petita. "As geadas
assustavam um pouco [...] contudo se conseguiam boas safras" menciona Américo
Colauto Filho (p. 95)
A
transição do café para outras culturas, como o algodão, e, posteriormente, soja
e milho, ocorreu a partir de 1975, conta Vady Preciso, "quando forte geada
devastou os cafezais do Paraná inteiro" (p.40-41). As safras de café, "quando
se conseguia e a geada deixava", e de outros produtos, diz Eder M. Jacomini (p.
58), eram entregues nas cafeeiras da cidade, o que é complementado por Martin
Mingues (p.67): "Fizemos muito progresso nos anos que vivemos ali".
Mas
quando a grande geada de 1975 dizimou os cafezais, contam Itsuo e Massanori
Kimura (p. 115), entravam os tratores para
"arrancar os cafezais e preparar terra para as outras lavouras". A
partir de então, relata Katsuji Kaneshiro (p. 119), "o êxodo rural levou o
município a perder habitantes e o comércio a perder força" fechando casas
comerciais, como Comercial Catarinense, Casas Pernambucanas, Loja Translar,
"todas as cafeeiras e cerealistas".
E
o Hino de Jussara, quem não se lembra do refrão?
Avante Jussara imortal
Teu filho não te
esquecerá
Tu és terra colossal
Do norte do Paraná.
Solo abençoado por Deus,
Orgulho dos filhos teus.
(Letra
de Geny Severina de Queiroz e Silva (1920-1997).
Melodia
de Sebastião Lima).
Mesmo
que o livro não seja um estudo historiográfico, como menciona Luciana Mara T.
Barbosa, mas é um "retratar da história de pessoas de forma individual que se
caracteriza no conjunto de uma única história" (p. 7), a de Jussara.
Jorge Antonio de Queiroz e Silva é
historiador, palestrante, professor.
Livros de todos os gêneros literários!